18.7.17

Desemparedado

Deixei desapalavradas
as juras mortiças.
Ajustei à cintura
os vulgos destronados
da vulgata do tempo.
Dei por mim
prisoneiro de um céu terreno
no atribulado leito de um sonho
desmedido.

Sem saber
(ou porventura não)
desalinhei os despojos
os estados de desalma
as purificações infecundas
as juras mortiças.
Desapalavradas as certezas
sobrou a clareza do nada
e nesse altar desordenado
medrou o que de mim veio ao luar.

Não cobro os juros pretéritos
nem sou penhor de aforros vindouros.
O vinho astuto contenta-me
na improvável aposta com os demónios
na liquefeita demanda dos nefelibatas
sem ter domínio das alcáçovas porfiadas
ou desenhar os limites das juras
entretanto mortiças.

Há um clarão ao longe
que perdura num pedaço da noite:
quem sabe
do clarão vêm devolvidas as palavras
do que dantes foi desapalavrado
ou palavras outras
hino sem ser alçapão
estrofe impregnada do ouro vivaz
balsa atirada ao mar em convulsões
para a redenção sem motivo aparente. 

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