21.7.17

Voz

Sob a chuva fria
a minha voz.

O tira-teimas.

Sob a chuva
já ensopado
e a chuva já não fria
a voz cansada
numa enseada.

Os dados atirados
no articulado palco sem chão
e um vulto
sereno
vagaroso
apontando com o dedo trémulo
para um norte sem bússola
sem a voz emudecida.

Alcanço o piano
o piano sem as negras teclas
e, a medo,
martelo duas, três teclas.
Era a minha voz
embargada
no lago louco sem nuvens por perto.

Já sem chuva
o corpo entretanto frio
a voz arrancada a ferros
deixada num solilóquio solene
percutindo nas árvores avulsas
sitiando a noite
já não medonha.

Era só a minha voz
transida pela chuva fria
transigindo os proibidos a eito.

A voz
que ninguém ouvia.

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