24.7.17

Diz-me um nome

Era um vulto
uma sombra deformada
o esquálido lençol caindo
sobre o vulto.

Tirava as medidas ao sol
enquanto ensaiava as demandas.
Pudesse ao menos o medo
ser o rigor baço
do silêncio;
quem sabia
se as réplicas em devolução
seriam medonhas
um apocalipse sem freio
uma maré viva, violenta
um mergulho inútil sobre o decorrido
viúvas ideias tateando cegas na escuridão.

Não reprimi mais
a demanda esperada à boca de cena
antes que apodrecesse na violada integridade:
pergunta pelo meu nome,
pergunta pelo meu nome,
antes que seja tarde.

Olhei
no contorno do meu ser.
Podia ser que houvesse alguém
a tomar entre mãos
a compungida demanda.
Um viajante por acaso
um nómada cavalgando a poeira
um prodigioso marçano
escapando entre as gotas da chuva
o arco-íris, diz-se, penhor da felícia
o jogo amparado pelos ascetas mudos
um coiote desinteressado, mas faminto
uma sereia fora do lugar
artistas à míngua de influência
devolutos lugares prometendo gente
a gente inteira possuída pelos seus nomes.

Não estava ninguém.

Era um vulto
e um espelho,
um espelho peça sozinha na paisagem:
e o vulto
o retrato da pessoa permanecida diante
do espelho.

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