14.7.17

Ermo

No ermo
não se rasgavam páginas
só porque uma vivalma passeava diferença.
Não havia tutores de ergástulos
vindicando um saber sem refutação
indispondo-se com perguntas. 
Nesse ermo lugar
provavelmente
as pessoas dormiam de dia. 
Saltavam infantilmente à corda
no imorredoiro,
e também pueril,
sorriso sem cortinas. 
Sendo ermo o lugar
a nudez não era vergonha. 
O sexo,
banal
(sem ser depreciativo)
obnubilados os esgares de reprovação
na ausência de códigos de conduta
e de quem os apascentava
numa totalitária impureza. 
No ermo 
onde as pessoas depositavam seus sonhos
o chão não tinha esteios
e do céu sem nuvens vertia-se chuva. 
O ermo lugar
era destino dos sonhos
um palco etéreo com vozes a preceito
palavras estrelares
bondade intrínseca
a que nem se chamava bondade
chapéus garridos dando amparo dos demónios 
um lugar frágil,
contudo,
dentro de uma redoma,
onde o giz lapidar era dado sem distinções
e onde não havia mandantes. 
Os ermos lugares
habitam nos sonhos
que, 
por o serem,
são o coldre desassisado de lugares ermos. 

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