23.7.17

Máquina do tempo

Brincávamos nas fronteiras da loucura:
não havia tempo capaz
de esfriar a ousadia.
Nos rostos arqueados
lavados nas águas cansadas
havia um desmentido do enunciado.
Tirávamos à sorte
as cartas madraças
apostando a ferocidade
contra a imaculada macieza
dos temperos que compunham as almas.
Não eram ilusões
os ossos emudecidos no viés do nevoeiro
nem os rapazes frenéticos
confirmavam o imorredoiro que julgávamos
possível.
A máquina do tempo
era a derradeira arma de arremesso
contra os impudores ocultados;
a maneira
de vergar o impossível
num braço-de-ferro pueril.
Uma filigrana tão frágil.

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