3.7.17

Opulência

Dissessem
que as palavras
carecem de desinfeção.
Experimentassem
soluções de alquimia
talvez
ou outros pudores sem o céu da razão.
Não sou tutor
da retidão
nem meço ao milímetro
a lassidão das palavras
a sua textura enredada
o bocal por onde fogem,
furtivas e azedas
ou gastronómicas e esbeltas,
ou apenas livres.
São as palavras
que vêm ao bornal
as doces
as categóricas
as telúricas
as meigas
as dúbias
as tóxicas
as contundentes
as telegráficas
as obnóxias (de tanta presunção).
Vistam-se
com as indumentárias
que vierem no restolho da maré
tontas
provocadoras
estilísticas
musicais
afetuosas
enlaçadas
determinadas
puras,
ou impuras
(não importa,
se não palavras).
Depois
por dentro da trovoada sinistra
por entre os horrores da escuridão
entaramelados em pesadelos grotescos
alinhem-se as palavras
no repositório ao acaso
estendidas em forma de desenho
na lã sedosa da alva folha.
E depois
contemple-se
a vocação.

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