4.7.17

Esgrima

Desse o tudo
e os vulcões deixariam de dormir
as marés seriam frugais
os lenços bordados, mantos diáfanos
as cordas de guitarra beijadas em alquimia
as cadeiras vazias por inutilidade
o sono adiado para derrotar pesadelos
(antes do tempo)
os miradouros, sede de segredos
a música toda bela
os pesares desautorizados
e a roda viva:
uma autêntica prova de vida. 

Mas os espelhos estilhaçados
esbulham as feições da perfeição. 

Protesta-se:
contra o adiamento das intenções
o alto muro que impede
as perfeitas coisas da sua consumação. 
Não importam
os esbirros que movem as paredes
para a geografia da impossibilidade.
Não interessa
se as coisas não conseguem
o triunvirato da perfeição.
Ou bem que se determina
a perfeição matéria alienável
(e ela despoja-se da perfeição seu timbre)
ou se jogam os dados da fortuna
num tabuleiro feito de matéria diferente
onde fecundam as cinzas vulcânicas
e a perfeição
é o que assim for julgado,
nem que seja
pela astuta, generosa lente
atrás do olhar imensamente subjetivo. 

Até que ao sonho
venham apenas
personagens de rosto macio
mãos desenrugadas
vozes de bálsamo
só gente capaz de calar
com a facúndia de seus esmaltes
os improfícuos demónios do desassossego. 

E todas as alvoradas
representando o sorriso largo
de quem sabe
um farto dia ter 
sem se consumir a linha do horizonte. 

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